Nos últimos anos, os afastamentos por transtornos mentais cresceram de forma significativa no Brasil.
Em 2023, o INSS concedeu 288.865 benefícios relacionados a problemas de saúde mental, um aumento de 38% em relação ao ano anterior. Já em 2024, o número ultrapassou 440 mil afastamentos, o maior da história do país.
Comparado a 2014, quando foram registrados 203 mil casos, o crescimento foi de mais de 100% em apenas uma década.
Transtornos mais comuns
- Episódios depressivos: 113.604 casos em 2024
- Transtornos de ansiedade: 141.414 casos em 2024
Esses números reforçam a urgência de ações preventivas voltadas para a saúde mental no trabalho.
Impactos dos afastamentos para trabalhadores e empresas
Para os trabalhadores
O afastamento pode ser necessário, mas quando prolongado, traz desafios como:
- insegurança no retorno ao trabalho;
- risco de agravamento dos sintomas;
- chances de novas licenças médicas;
- isolamento e dificuldade de recuperação.
Sem suporte adequado, há maior risco de cronificação dos sintomas e dificuldades de reintegração.
Para as empresas
As organizações também sofrem com consequências diretas e indiretas:
- custos com substituições e licenças recorrentes;
- queda de produtividade;
- sobrecarga das equipes;
- desgaste no clima organizacional;
- dificuldade em reintegrar colaboradores afastados.
Além disso, a falta de preparo da liderança para lidar com questões emocionais pode perpetuar esse ciclo negativo.
Saúde mental no trabalho: mais do que afastamentos
A concessão de afastamentos é apenas parte da questão. Para quebrar esse ciclo, é necessário investir em gestão estratégica da saúde mental dentro das empresas.
Com a nova Norma Regulamentadora (NR-1), que estabelece diretrizes para gestão de riscos ocupacionais, as organizações são chamadas a implementar medidas de prevenção e adaptação do ambiente de trabalho.
Estratégias para reduzir afastamentos por saúde mental
1. Políticas de prevenção
- Avaliações periódicas da saúde mental (semestrais ou anuais);
- Programas de bem-estar que identifiquem sinais precoces de esgotamento;
- Ações contínuas de promoção de qualidade de vida no trabalho.
2. Diálogo aberto e acompanhamento contínuo
- Consultas regulares com médicos e psicólogos;
- Cultura de transparência sobre saúde mental;
- Acompanhamento do RH como mediador entre colaboradores e profissionais de saúde.
3. Retorno ao trabalho planejado
- Protocolos de reintegração gradual;
- Ajustes na carga de trabalho;
- Suporte psicológico para evitar recaídas.
4. Capacitação da liderança
- Treinamentos para identificar sinais de adoecimento mental;
- Uso de feedback empático e estruturado;
- Redução de conflitos e fatores de estresse no ambiente corporativo.
5. Ajustes organizacionais
- Revisão da carga de trabalho e prazos;
- Redução de ambientes hostis;
- Implementação de práticas que fortaleçam o equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
Saúde mental como estratégia de negócios
Mais do que cumprir exigências legais, cuidar da saúde mental deve ser visto como uma estratégia de sustentabilidade empresarial.
Ambientes organizacionais saudáveis:
- reduzem afastamentos;
- aumentam engajamento e produtividade;
- fortalecem a retenção de talentos.
Promover a saúde mental deixou de ser diferencial competitivo: tornou-se essencial para o futuro dos negócios.
*Por Dra. Camila Magalhães Silveira: psiquiatra e cofundadora da Caliandra Saúde Mental.