Buscar sintomas de doença no Google pode virar um problema de saúde

A cena é comum: basta uma dor de cabeça persistente, uma coceira diferente ou um sintoma inesperado para que muitas pessoas recorram ao Google em busca de respostas. Em poucos cliques, o que era uma dúvida simples se transforma em pânico. As páginas que aparecem nos resultados das buscas – repletas de termos médicos complexos e doenças graves – alimentam o medo de estar com algo sério, mesmo sem qualquer diagnóstico profissional. Esse comportamento tem nome: cibercondria, uma forma de ansiedade provocada por buscas excessivas sobre sintomas e doenças na Internet. O fenômeno vem crescendo à medida que a saúde digital se torna mais acessível, e levanta um alerta importante sobre os riscos de confiar cegamente em informações encontradas online, sem o devido acompanhamento médico. Embora a Internet possa ser uma aliada na disseminação de informações sobre saúde, o excesso de buscas sem orientação médica pode ter efeitos negativos. Entre os riscos mais comuns estão o aumento da ansiedade, a automedicação e até o atraso em diagnósticos reais, quando o paciente passa a ignorar sinais importantes por já ter “certeza” do que tem. Para o psiquiatra Arthur Guerra, professor da USP e da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental, “a busca por sintomas no Google pode parecer um gesto de autocuidado, mas frequentemente se transforma em combustível para a ansiedade, principalmente quando não há um filtro crítico sobre o que está sendo lido”. Especialistas alertam que, em casos mais graves, o uso compulsivo do chamado “Dr. Google” pode evoluir para um transtorno psicológico, exigindo acompanhamento profissional. Tudo sobre cibercondria: veja o índice O TechTudo reuniu seis coisas que você precisa saber sobre cibercondria na lista abaixo. A seguir, confira os tópicos que serão abordados neste guia. 1. O que é cibercondria? O termo cibercondria é uma junção das palavras “cibernético” e “hipocondria”. Ele descreve um comportamento cada vez mais frequente: o hábito de buscar sintomas de saúde na Internet e, a partir disso, acreditar estar com uma doença grave – mesmo sem diagnóstico médico. A prática se intensificou com o acesso facilitado a informações médicas online, mas pode gerar mais medo do que clareza. Segundo especialistas, o comportamento se diferencia de uma simples curiosidade quando há exagero, ansiedade constante e dificuldade em confiar na avaliação de profissionais. A pessoa com cibercondria tende a fazer buscas repetidas, consultar vários sites em sequência e acreditar nas hipóteses mais graves, o que alimenta um ciclo de preocupação e angústia. Embora não seja oficialmente reconhecida como um transtorno no CID-11 (classificação da OMS), a cibercondria já é tratada na prática clínica como um comportamento com impacto significativo na saúde emocional. Segundo Arthur Guerra, trata-se de uma ansiedade que se retroalimenta: quanto mais a pessoa busca, mais ela se assusta, e quanto mais se assusta, mais sente necessidade de buscar. 2. Quais os riscos de buscar sintomas online o tempo todo? A prática do autodiagnóstico via Internet pode parecer inofensiva à primeira vista, mas traz uma série de riscos para a saúde mental e física. O mais comum é o aumento da ansiedade – um sintoma que, ironicamente, pode levar a mais buscas, reforçando o ciclo da cibercondria. Além disso, interpretar mal um sintoma pode levar a diagnósticos incorretos, automedicação perigosa ou, ainda, ao pânico desnecessário. Em alguns casos, o medo de estar doente paralisa a pessoa, fazendo com que ela evite procurar um médico de verdade ou negligencie o tratamento adequado. A Internet democratizou o acesso à informação, o que é ótimo. Mas, ao mesmo tempo, criou um terreno fértil para o medo infundado. Nem toda dor de cabeça é sinal de algo grave, mas quem está em estado de ansiedade extrema tende a buscar sempre o pior cenário”. — Arthur Guerra, psiquiatra e professor da USP e da Faculdade de Medicina do ABC 3. Quando o comportamento vira um problema de saúde mental? Nem toda pesquisa sobre saúde na Internet indica cibercondria. Mas há sinais de alerta importantes: quando a busca se torna compulsiva, interfere na rotina, no humor, no sono ou nos relacionamentos, pode ser o momento de procurar ajuda. A obsessão por saber “o que eu tenho” toma conta da vida da pessoa, que muitas vezes ignora as orientações médicas e volta ao Google logo após uma consulta. Esse padrão de comportamento pode indicar um transtorno de ansiedade relacionado à saúde. “Há pacientes que chegam ao consultório com uma lista de doenças raras, convencidos de que têm todas. Isso mostra o impacto emocional e psicológico dessas buscas excessivas”, afirma o psiquiatra. 4. O que os especialistas recomendam? A primeira orientação é simples, mas essencial: não se baseie apenas no que encontra na Internet para tirar conclusões sobre sua saúde. Mesmo sites confiáveis não substituem a escuta e avaliação clínica. Buscar informações é legítimo – e até útil –, mas é importante filtrar as fontes e evitar fóruns, vídeos amadores e diagnósticos “automáticos”. Se o medo persistente estiver atrapalhando sua vida, o ideal é procurar ajuda psicológica. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), por exemplo, é uma das abordagens indicadas para tratar a cibercondria. Ela ajuda o paciente a identificar padrões de pensamento distorcidos e a lidar melhor com a ansiedade. Informar-se é saudável, mas preocupar-se o tempo todo com a saúde pode ser um sintoma de algo mais profundo. Buscar ajuda profissional não é sinal de fraqueza, é um passo importante para retomar o equilíbrio emocional”. — Arthur Guerra 5. Como usar o Google para pesquisas sobre saúde sem se prejudicar 6. 5 sinais de que você pode estar sofrendo de cibercondria Se você se identificou com dois ou mais sinais acima, vale a pena conversar com um psicólogo. Fonte: Techtudo