Burnout: por que as pessoas evitam procurar ajuda?

Nos últimos 10 anos, o número de pessoas diagnosticadas com problemas de saúde mental tem alcançado seu nível mais alto. Essa é a declaração de Jon Clifton, CEO da consultoria Gallup, na nota de abertura do tradicional estudo State of The Global Workplace 2024. A saúde mental do colaborador, com destaque ao burnout, tem estado no holofote dos debates corporativos, do governo e da Organização Mundial de Saúde (OMS). Compreende-se que a prevenção e o cuidado com a saúde mental não se limitam às ações pontuais, é importante uma abordagem que envolva a implementação de uma cultura de trabalho que valorize e priorize o bem-estar emocional e físico de todos os colaboradores. Isso inclui um ambiente de trabalho saudável, em que a comunicação aberta e o apoio mútuo são incentivados, além da oferta de recursos e programas contínuos de saúde mental, possibilitando o equilíbrio entre as demandas profissionais e pessoais, resultando em aumento da satisfação e produtividade. Quer saber mais sobre esse tema? Então não deixe de ler esse artigo. O que é burnout e como diagnosticar Como detalha a Dra. Camila Magalhães, psiquiatra e cofundadora da Caliandra Saúde Mental, o burnout é uma síndrome, ou seja, um conjunto de sinais e sintomas relacionados ao estresse crônico no contexto profissional. Dentre as principais características dessa condição, três se destacam: exaustão emocional extrema, despersonalização e baixa realização pessoal e profissional. O burnout apresenta sintomas significativos de esgotamento mental que impactam o funcionamento cotidiano, podendo resultar em afastamento médico. O reconhecimento e o diagnóstico são essenciais e devem ser realizados por um profissional de saúde mental, que pode realizar uma avaliação clínica minuciosa para confirmar o diagnóstico e, se necessário, recomendar uma licença médica para permitir a recuperação do indivíduo. Síndrome já é reconhecida como condição de saúde ocupacional A urgência da saúde mental no ambiente de trabalho é tamanha que a Organização Mundial de Saúde incluiu a síndrome de burnout na 11ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-11) como um fenômeno ocupacional. Pela definição da OMS, “burnout é uma síndrome conceituada como resultante do estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso”, ressaltando que o termo se refere especificamente a fenômenos no contexto ocupacional e não deve ser aplicado para descrever experiências em outras áreas da vida. Em novembro de 2023, a Portaria GM/MS Nº 1.999 atualizou a lista de acidentes de trabalho no Brasil, que incluiu o burnout. Isso quer dizer que, sob a ótica do Ministério do Trabalho, o colaborador diagnosticado com burnout tem os mesmos direitos trabalhistas daqueles com outras doenças e acidentes decorrentes de atividades profissionais. Por que a saúde mental ainda é tabu nas empresas? Muitos profissionais ainda não buscam ajuda especializada para tratar a doença, principalmente por desconhecimento, preconceito com relação a doenças de saúde mental, medo do julgamento e estigmatização, vergonha em admitir vulnerabilidades e a falta de apoio e acolhimento no ambiente corporativo. Esses fatores combinados contribuem para que o colaborador hesite em procurar apoio e resultam em afastamentos que poderiam ter sido evitados. De que forma a cultura de trabalho pode ajudar Sintomas de sofrimento emocional, como o burnout, têm mais chance de serem diagnosticados, evitados e tratados quando o colaborador faz parte de uma organização em que: Como é comum e ocorre em outras doenças, a identificação rápida dos sinais e o diagnóstico precoce do burnout permite intervenções eficazes, minimiza os impactos e contribui para uma melhor recuperação. Além disso, aliado a um tratamento personalizado e adequado, conduzido por profissionais especializados, garante que as necessidades individuais sejam atendidas, promovendo um retorno ao bem-estar emocional e físico mais rápido e sustentável. A Caliandra Saúde Mental é uma empresa especializada em soluções de cuidados com a saúde mental e treinamento de liderança. Nossos especialistas estão à disposição para apoiar o seu negócio nessa jornada, com o sigilo e a eficiência que o tema demanda. Entre em contato agora.
Burnon vem antes do burnout e dá sinais de alerta; veja como identificar

Nos últimos anos, a rotina da publicitária Adriana*, 37, podia ser resumida da seguinte forma: ela trabalhava cerca de 12 horas por dia, vivia cansada, não dormia o suficiente para se recuperar e abusava do consumo de cafeína. Apesar da exaustão, ela sentia uma euforia anormal para cumprir metas e avançar na carreira. Por um tempo, funcionou. Adriana progredia na empresa e acreditava que estava gerenciando tudo. Até que, “de repente”, o esgotamento surgiu, impossibilitando-a de seguir nesse ritmo frenético. É claro que o colapso não é algo que ocorre da noite para o dia. Depois de semanas, meses ou até anos de esforço excessivo no trabalho, a pessoa pode atingir o ponto de ruptura físico e mental conhecido como esgotamento. No entanto, embora muito tenha sido falado sobre o burnout, a fase de esgotamento em si, pouco se fala sobre a fase que vem antes: o burnon. Esse termo foi criado por pesquisadores alemães (Timo Schiele e Bert te Wildt) para descrever o estado de pessoas com níveis elevados de estresse, já capaz de trazer prejuízos para rotina, bem-estar e saúde mental, mas no qual o indivíduo consegue manter um certo nível de eficácia. No burnon, as pessoas trabalham e seguem suas vidas como se tudo estivesse normal, embora se sintam frequentemente exaustas. Os indivíduos permanecem funcionais e podem ter dificuldade para perceber que já se encontram diante de um estado que precisa ser remediado para evitar o colapso. Como identificar De acordo com Camila Magalhães, doutora em psiquiatria pela FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), embora ainda não exista um debruçar científico para esse tema, entende-se o burnon como um mecanismo de estresse relacionado ao trabalho com sintomas semelhantes aos de burnout. Ela explica que, geralmente, por conta da “compulsão em trabalho”, o paciente revela um sentimento de exaustão física e mental crônica, redução do prazer nas atividades fora do ambiente corporativo, desconexão emocional e persistência de sintomas físicos, como tensão muscular e dores de cabeça constantes. “Ao meu ver, a relação disfuncional do sujeito com seu trabalho tem múltiplos fatores causais: aspectos pertinentes ao indivíduo (personalidade, desejos, necessidades), precariedade nas relações e condições de trabalho, falta de políticas de saúde mental nas empresas, assim como aspectos da cultura neoliberal pautada no individualismo, desempenho e competitividade em um contexto de indefinições e crises de diversas naturezas (politica, econômica e socioambiental). Todo esse ecossistema gera sofrimento”, avalia Magalhães. Além disso, segundo ela, no burnon o sujeito também parece se identificar com a antiga máxima do “trabalha que passa”, “o trabalho dignifica o homem”, entre outras formas de domínio do sujeito para vinculá-lo ainda mais à produtividade. O que fazer para evitar Conseguir estabelecer limites saudáveis em relação ao trabalho é um fator importante de prevenção. Outras estratégias incluem investir no autocuidado, ter momentos de qualidade com amigos e familiares e respeitar e priorizar o descanso e a desconexão. Para Cleyson Monteiro, psicólogo e professor do curso de psicologia da Uninassau, é essencial reservar tempo para atividades que proporcionem prazer e satisfação pessoal. “Um grande problema da sociedade contemporânea é a falta de tempo dedicado a si mesmo. Muitas vezes, as pessoas priorizam o tempo para os outros —filhos, trabalho, cônjuge—, mas negligenciam a si mesmas”, ressalta ele. Além disso, vale sempre buscar ajuda de profissionais especializados em saúde mental para evitar que a situação se agrave. Responsabilidade das empresas Segundo Thaís Gameiro, neurocientista pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e sócia da consultoria Nêmesis, investir numa cultura que prioriza a saúde mental e o bem-estar dos colaboradores é uma das melhores formas de protegê-los do adoecimento associado ao estresse. “As empresas podem fazer isso de muitas formas, por exemplo: capacitar líderes para terem práticas de gestão anti-burnout, desenvolver os colaboradores para que aprimorem suas habilidades de autogestão, priorização e gestão do tempo, incentivar rotinas e acordos que respeitem o equilíbrio de vida, evitar a cultura da urgência e da conexão 24 horas, estimular pilares como segurança psicológica, confiança e colaboração entre os times etc.”, enumera Gameiro. Para a especialista, de maneira geral, as empresas precisam apostar em ações e práticas preventivas, ou seja, que evitem o adoecimento das pessoas. “Oferecer suporte emocional e psicoterapêutico também é uma ação importante, no entanto, muitas vezes isso acontece apenas quando os profissionais já estão doentes”, afirma. Fonte: Viva Bem – UOL